08 February 2007 | Entrevistas, Variedades | Por sp_renata

Alexandre Inagaki é praticamente uma celebridade entre os blogueiros brasileiros. Seus textos, sempre bem humorados, fizeram do Pensar Enlouquece – Pense Nisso referência entre os que buscam na internet literatura descompromissada, mas honesta.
E fãs de Inagaki é o que não faltam. Basta dar uma rápida navegada pelos comentários de seus posts para perceber o quão suas reflexões mexem com a nova geração web 2.0.
Dia desses, em um vagão do metrô, um garoto trajava uma camiseta do blog. Perguntei, curiosa: “Por acaso você fez camisetas para o Pensar Enlouquece?”. Inagaki, surpreso, respondeu: “Não!”. Então contei o caso a ele. Pena que não estava com a velha e guerreira câmera a tiracolo.
E claro que toda essa fama “virtual” já lhe rendeu muitas entrevistas, matérias, citações e, obviamente, clonagem de seus geniais textos mundo afora. O último post do blog, inclusive, aborda exatamente esse assunto. Vale a pena dar uma passadinha por lá.
Alexandre Inagaki é um paulistano convicto e, além das respostas às nossas perguntas bandeirantes, ainda mandou de lambuja, como bonus track – foi assim que se referiu ao presente -, um poema onde declara seu carinho pela cidade.
Divirtam-se!!
Você mora na Vila Mariana, popular bairro paulistano. Se não morasse lá, qual outro bairro seria o seu refúgio bandeirante?
Morei quase 20 anos em Perdizes, e continuaria lá numa boa. Perdizes é um bairro de topografia pra lá de acentuada. Repleta de barrancos, escadarias e colinas, obriga carros menos possantes a apelarem para a primeira marcha: trata-se de uma verdadeira montanha-russa de ruas. A região, que concentra grande número de prédios residenciais, começou, de alguns anos para cá, a ganhar contornos comerciais. Marcas como Blockbuster, Sottozero, Bank of Boston e Gelateria Parmalat tornaram-se presentes, causando reviravolta significativa (e simbólica destes tempos de globalização) no perfil de um bairro caracterizado por logradouros com nomes de origem indígena, como Caiubi, Kaiowaa, Apiacás e Caetés, que é a rua onde morei. Bons tempos nos quais freqüentei assiduamente lugares como a padaria La Plaza, o restaurante Juca Alemão e o Fran’s Café da Avenida Sumaré.
São Paulo tem cheiro, gosto e cor de quê?
São Paulo é uma balbúrdia multifacetada. Ao mesmo tempo que exala o cheiro nauseabundo da marginal Pinheiros ou o odor enjoativo dos churrascos gregos do Largo 13 de Maio, também tem o cheiro de mato dos caminhos que levam ao Pico do Jaraguá ou à Serra da Cantareira. Mas esta cidade também tem o gosto da pizza do Castelões no Brás, do Häagen-Dazs de Strawberry Cheesecake na Oscar Freire, da coxinha do Yokoyama na Lins de Vasconcelos, da esfiha de carne do Jáber na Domingos de Moraes, do rodízio de churrasco do Fogo de Chão na Santo Amaro etc etc. Quanto à cor, não tem jeito: Sampa é cinza.
Um lugar para dançar, pensar, jogar conversa fora…
Pra dançar: o Studio SP, na Vila Madalena, e a quadra de ensaios da Vai Vai, no Bexiga. Pra pensar: o Centro Cultural São Paulo, na Vergueiro, a sala de espera do Aeroporto de Congonhas ou qualquer banco na Rodoviária do Tietê. Pra jogar conversa fora: compartilhando uma mesa com amigos no mezanino da Galeria dos Pães, no Empanadas da Vila Madá ou na Prainha da Paulista, aboletado na grama da Praça do Pôr-do-Sol em Pinheiros ou proseando durante uma caminhada no Ibirapuera ou no campus da USP.
Na sua opinião, qual a rua que tem a cara de Sampa?
Se fosse avenida, a resposta seria óbvia: Paulista. Como é rua, minha resposta é: Augusta. Porque ela é uma espécie de microcosmo de toda a bagunça e diversidade paulistana, resumindo a esquizofrenia típica desta cidade. É a rua do Espaço Unibanco, do Cinesesc e da Estação Vitrine; a rua das putas, habitués das saunas e casas de “entretenimento adulto” instaladas pela rua ou extraviadas do Kilt e Vagão; a rua do Pedaço de Pizza, do Frevo e do Charme; a rua do Promocenter e da Loja do Gugu, que dividem com o Stand Center da Paulista os carinhosos apelidos de “Ching Ling” e “Carrefurto”. A rua do Outs, do Sarajevo, do Vegas e do Inferno. A rua, enfim, que virou sucesso de Jovem Guarda graças a Ronnie Cord e que, ao lado da Angélica e da Consolação, foi devidamente homenageada pelo Tom Zé.
Três lugares para se conhecer por aqui antes de morrer…
Se você descer na Estação da Luz, já estará diante de três lugares imperdíveis da cidade: a própria Estação, que é belíssima, o Museu da Língua Portuguesa, o melhor presente que São Paulo ganhou no ano passado, e a Pinacoteca de São Paulo, que além de ser um belo monumento arquitetônico e de ter um ótimo acervo, possui uma agradabilíssima cafeteria no térreo e, de quebra, entrada gratuita aos sábados.
Música e filme que, segundo Inagaki, têm a cara de São Paulo?
Uma música que pra mim tem cara de café da manhã, bocejos e noites de sono interrompidas na marra é o “Tema de São Paulo”, composto por Billy Blanco e melhor conhecida pelo refrão: “Vambora, vambora/ Olha a hora, vambora, vambora”. Música executada anos a fio pela Jovem Pan AM, trilha sonora do rádio-relógio usado pelos meus pais que me acordavam para ir à escola: “São Paulo que amanhece trabalhando/ São Paulo que não sabe adormecer/ Porque durante a noite paulista vai pensando/ Nas coisas que de dia vai fazer”. Quanto a filmes, a cidade de São Paulo já serviu de locação para pelo menos duas obras-primas do cinema nacional: “O Grande Momento” (1958), de Roberto Santos, e “São Paulo S.A.” (1965), de Luís Sérgio Person. Mas um filme menos conhecido e que sou obrigado a citar nesta resposta é “Fogo e Paixão”, longa dirigido em 1988 pela dupla de arquitetos Isay Weinfeld e Márcio Kogan. Primeiro, porque o elenco é repleto de gente muito identificada com a cidade, como Rita Lee, Cristina Mutarelli, Mira Haar, Giulia Gam, Nair Belo e Carlos Moreno. E segundo, porque os cenários utilizados em “Fogo e Paixão” foram escolhidos a dedo dentre os locais arquitetonicamente mais interessantes de São Paulo, como o prédio da Bienal, o Castelinho da Rua Apa e o Edifício Bretagne.
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