Marabá põe cinema de shopping de cara pra rua
Agora que você já leu todos os relatos babando ovo para o retorno do cinemão de 1945; das vovós contando do glamour; dos vovôs falando dos carrões; das autoridades municipais animadinhas com a revitalização do Centro. Agora, agora, é bem provável que ainda não tenha ido ao Marabá — mas, diz aí, você pretende frequentar as novas salas?
Vamos lá, sem ressentimentos. Este post não é agourento e ninguém é besta de não querer uma região central viva; estamos apenas avaliando esse recomeço do Marabá — e o prédio já vale, mesmo, o primeiro ingresso. A iluminação externa, a fachada, o piso do hall de entrada, as colunas de mármore, os lustres, as portas, o espelho… Tudo restaurado, bonitão.
Na bilheteria, a tela com os horários dos filmes estava fora do ar; com uma tabela na mão, um funcionário ajudava quem ainda precisava escolher. As filas estavam desorganizadas; tanto na compra do bilhete quanto na saída, as faixas que deveriam organizar o fluxo muitas vezes atrapalharam. Alguma confusão com tamanhos e preços na hora da pipoca. Tudo normal de estreia e nada que seja exclusivo de lá.
Mas é meio que aí que está. Por enquanto, o prédio é a única coisa que diferencia, de fato, o Marabá. No restante, ele é igual a um cinema de shopping. As mesmas poltronas, a mesma luz, o mesmo som, a mesma lanchonete. Dependendo da sala, do hall para a frente, o mesmo clima.
A programação inicial tem duas comédias light nacionais, cinco filmes dublados e, com legendas, um policial do Mickey Rourke — o único a estrear esta semana. A sala principal, maior e mais suntuosa, reserva o charme da recuperação da boca de cena, da pintura e dos ornamentos para o público de ‘Monstros Vs. Alienígenas’ e ‘Dia dos Namorados Macabro 3D’.
Aí vêm as desvantagens. Ao contrário do cinema de shopping, não tem estacionamento (o plano oficial é um sistema de valet, mas há um ponto de ônibus bem em frente ao cinema); o entorno é sujo, esburacado e não inspira segurança; e é nesse entorno que você passeia até chegar ao programa pós-filme.
Então ficamos assim, pelo menos até aqui: por mais que queiramos todos acreditar no renascimento, o cinema ainda é, por fora, uma ilha num centro degradado; por dentro, um ambiente ora único ora padrão, e uma programação qualquer nota.
Serviço: Cine Marabá – Av. Ipiranga, 757, Centro // Tel.: (11)5053-6996 // Cinco salas: 430, 176, 161, 133 e 122 poltronas.